Pergunte a seus pais como eram as aulas na escola deles. Tirando os castigos e o fato de educação sexual ou ecologia não figurar nos livros, as coisas não eram lá muito diferentes de hoje. Professor na frente da turma, escrevendo a matéria no quadro e explicando o con¬teúdo, alunos anotando tudo para serem testados em provas, semanas depois. Há décadas o modelo é o mesmo.
O problema é que, do tempo da escola dos nossos pais até hoje, a ciência descobriu muita coisa sobre o caminho que a informação faz quando sai do quadro-negro, livro ou computador, passa pelos olhos e ouvidos e se transforma em memória. Há 10 anos, pedagogos e psicólogos tinham o monopólio das teorias sobre o assunto. Mais recentemente, cientistas de outras áreas resolveram estudar o chamado sistema cognitivo. “Quanto mais aprendemos sobre como nosso cérebro processa e armazena novas informações, mais des¬¬¬¬cobrimos que nosso sistema educacional está errado”, diz Jamshed Bharucha, doutor em psicologia cognitiva pela Universidade Harvard, dos EUA. As pesquisas têm derrubado mitos, apontado métodos mais eficazes e comprovado o que psicólogos, filósofos e pedagogos já falam há décadas: uma sala de aula deve ser mais do que esta que está aí.
Não que os cientistas tenham descoberto fórmulas mágicas de ensino. Na verdade, grande parte do que se fala sobre o cérebro e a educação é bobagem (conheça os 6 “neuromitos” ao longo desta matéria). “Há um buraco entre o estado atual da neurociência e sua aplicação direta na sala de aula. Mesmo assim, os professores têm acesso a vários programas de ensino baseados no cérebro”, afirma Usha Goswami, diretor do Centro para Neurociência na Educação da Universidade de Cambridge, no Reino Unido, num artigo na revista Nature de junho. “Alguns desses pacotes têm quantidades alarmantes de informações erradas.”
Mas há descobertas quentes envolvendo a aprendizagem como uma atividade de todo o corpo. “Quan¬do um professor en¬tende o cérebro, conclui que ele precisa de nutrientes, e o aluno precisa estar bem alimentado; que uma sala pouco ventilada diminui a atenção e que a memória depende do sono”, diz Leonor Guerra, pesquisadora de neurociência da UFMG. “Estudos nessa direção estão baseando as mudanças na maneira de educar.”
Menos horários
Primeira mudança: as aulas dos adolescentes devem começar mais tarde, lá pelas 11 horas. Para a Fundação Americana do Sono, dos EUA, o hábito dos adolescentes de matar a 1ª aula, chegar atrasado na 2ª e tirar um cochilo na 3ª não é pura vagabundice da idade. Nem é porque os jovens fumam maconha demais. Mas é fruto dos hormônios da adolescência, que pedem pelo menos 9 horas de sono por dia e fazem a atenção dos jovens só atingir o pico às 11 horas.
A escola deveria se adaptar a esse metabolismo diferente. Uma pesquisa da fundação mostrou que 60% dos adolescentes têm sono de manhã – bem mais que as crianças. Ou seja: o horário segue uma lógica inversa. As crianças, que geralmente acordam cedo, costumam estudar à tarde, e quando viram adolescentes precisam responder chamada às 7h15.
O problema é que implementar uma mudança no horário alteraria toda a rotina e os horários da família. Mas escolas americanas que transferiram o início das aulas das 7h15 para as 8h40 tiveram alunos mais atentos. Na região da Nova Inglaterra (EUA), a mudança foi a¬com¬panhada por cientistas e documentada. As pesquisas mostraram que a média das notas aumentou (ainda que timidamente), as faltas caíram e os alunos passaram a ter menos sono.
Outra pesquisa sobre o sono e seu impacto sugere uma mudança mais radical: instituir a sesta depois de uma aula puxada. Um estudo da Universidade Harvard mostrou que, ao passar por aulas que exigiam muita atenção, os alunos lembravam-se mais do conteúdo quando tiravam uma sonequinha de 30 a 50 minutos.
Mais provas
Além do horário de início da aula, há uma outra convenção sem base científica: aulas que duram 50 minutos. “É muito tempo para o cérebro de uma criança. Nos 10 primeiros minutos de aula a atenção do aluno é boa. Se a informação for importante, ele segura a atenção; de outra forma, dispersa”, diz Leonor Guerra, da UFMG. “É importante dividir esse tempo em atividades diferentes.”
Para saber o tanto que os alunos prestam atenção na aula, uma escola perto de Newcastle, na Inglaterra, virou um verdadeiro laboratório de aprendizagem. A diretoria decidiu testar o mesmo conteúdo em turmas diferentes com métodos completamente distintos. Em uma delas, a matéria do dia seria formatada em seções de 8 minutos. Depois disso, uma pausa de 10 minutos, com brincadeiras que não tinham nada a ver com a disciplina. Mais 8 minutos do mesmo conteúdo. Pausa de 10 minutos, outra revisão. A retenção do conteúdo foi muito maior que a partir do método comum, mostrando que no começo da aula a criançada presta atenção se o conteúdo for interessante. E, se houver pausas, melhor ainda.
Outro problema da educação convencional é a semana de provas. Você se acha meio devagar por ter estudado para um monte de matérias e dali a 6 meses não lembrar de mais nada? Calma, há uma explicação científica. Segundo Bharucha, de Harvard, quando há muitas provas de diferentes matérias em pouco tempo, a chance de o aluno reter as informações é muito menor do que se a avaliação fosse dispersa no tempo. “Uma escola ideal tende a ter avaliação baseada na matéria estudada, e não no tempo que o aluno assiste às aulas”, diz Fredric Litto, professor da Escola do Futuro da USP , núcleo que pesquisa novas formas de educação. “Assim, um curso pode durar 3 horas, 3 dias ou 3 semanas, e não necessariamente 3 meses.”
O problema é que, do tempo da escola dos nossos pais até hoje, a ciência descobriu muita coisa sobre o caminho que a informação faz quando sai do quadro-negro, livro ou computador, passa pelos olhos e ouvidos e se transforma em memória. Há 10 anos, pedagogos e psicólogos tinham o monopólio das teorias sobre o assunto. Mais recentemente, cientistas de outras áreas resolveram estudar o chamado sistema cognitivo. “Quanto mais aprendemos sobre como nosso cérebro processa e armazena novas informações, mais des¬¬¬¬cobrimos que nosso sistema educacional está errado”, diz Jamshed Bharucha, doutor em psicologia cognitiva pela Universidade Harvard, dos EUA. As pesquisas têm derrubado mitos, apontado métodos mais eficazes e comprovado o que psicólogos, filósofos e pedagogos já falam há décadas: uma sala de aula deve ser mais do que esta que está aí.
Não que os cientistas tenham descoberto fórmulas mágicas de ensino. Na verdade, grande parte do que se fala sobre o cérebro e a educação é bobagem (conheça os 6 “neuromitos” ao longo desta matéria). “Há um buraco entre o estado atual da neurociência e sua aplicação direta na sala de aula. Mesmo assim, os professores têm acesso a vários programas de ensino baseados no cérebro”, afirma Usha Goswami, diretor do Centro para Neurociência na Educação da Universidade de Cambridge, no Reino Unido, num artigo na revista Nature de junho. “Alguns desses pacotes têm quantidades alarmantes de informações erradas.”
Mas há descobertas quentes envolvendo a aprendizagem como uma atividade de todo o corpo. “Quan¬do um professor en¬tende o cérebro, conclui que ele precisa de nutrientes, e o aluno precisa estar bem alimentado; que uma sala pouco ventilada diminui a atenção e que a memória depende do sono”, diz Leonor Guerra, pesquisadora de neurociência da UFMG. “Estudos nessa direção estão baseando as mudanças na maneira de educar.”
Menos horários
Primeira mudança: as aulas dos adolescentes devem começar mais tarde, lá pelas 11 horas. Para a Fundação Americana do Sono, dos EUA, o hábito dos adolescentes de matar a 1ª aula, chegar atrasado na 2ª e tirar um cochilo na 3ª não é pura vagabundice da idade. Nem é porque os jovens fumam maconha demais. Mas é fruto dos hormônios da adolescência, que pedem pelo menos 9 horas de sono por dia e fazem a atenção dos jovens só atingir o pico às 11 horas.
A escola deveria se adaptar a esse metabolismo diferente. Uma pesquisa da fundação mostrou que 60% dos adolescentes têm sono de manhã – bem mais que as crianças. Ou seja: o horário segue uma lógica inversa. As crianças, que geralmente acordam cedo, costumam estudar à tarde, e quando viram adolescentes precisam responder chamada às 7h15.
O problema é que implementar uma mudança no horário alteraria toda a rotina e os horários da família. Mas escolas americanas que transferiram o início das aulas das 7h15 para as 8h40 tiveram alunos mais atentos. Na região da Nova Inglaterra (EUA), a mudança foi a¬com¬panhada por cientistas e documentada. As pesquisas mostraram que a média das notas aumentou (ainda que timidamente), as faltas caíram e os alunos passaram a ter menos sono.
Outra pesquisa sobre o sono e seu impacto sugere uma mudança mais radical: instituir a sesta depois de uma aula puxada. Um estudo da Universidade Harvard mostrou que, ao passar por aulas que exigiam muita atenção, os alunos lembravam-se mais do conteúdo quando tiravam uma sonequinha de 30 a 50 minutos.
Mais provas
Além do horário de início da aula, há uma outra convenção sem base científica: aulas que duram 50 minutos. “É muito tempo para o cérebro de uma criança. Nos 10 primeiros minutos de aula a atenção do aluno é boa. Se a informação for importante, ele segura a atenção; de outra forma, dispersa”, diz Leonor Guerra, da UFMG. “É importante dividir esse tempo em atividades diferentes.”
Para saber o tanto que os alunos prestam atenção na aula, uma escola perto de Newcastle, na Inglaterra, virou um verdadeiro laboratório de aprendizagem. A diretoria decidiu testar o mesmo conteúdo em turmas diferentes com métodos completamente distintos. Em uma delas, a matéria do dia seria formatada em seções de 8 minutos. Depois disso, uma pausa de 10 minutos, com brincadeiras que não tinham nada a ver com a disciplina. Mais 8 minutos do mesmo conteúdo. Pausa de 10 minutos, outra revisão. A retenção do conteúdo foi muito maior que a partir do método comum, mostrando que no começo da aula a criançada presta atenção se o conteúdo for interessante. E, se houver pausas, melhor ainda.
Outro problema da educação convencional é a semana de provas. Você se acha meio devagar por ter estudado para um monte de matérias e dali a 6 meses não lembrar de mais nada? Calma, há uma explicação científica. Segundo Bharucha, de Harvard, quando há muitas provas de diferentes matérias em pouco tempo, a chance de o aluno reter as informações é muito menor do que se a avaliação fosse dispersa no tempo. “Uma escola ideal tende a ter avaliação baseada na matéria estudada, e não no tempo que o aluno assiste às aulas”, diz Fredric Litto, professor da Escola do Futuro da USP , núcleo que pesquisa novas formas de educação. “Assim, um curso pode durar 3 horas, 3 dias ou 3 semanas, e não necessariamente 3 meses.”